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  • Foto do escritorMarcela Torres

Movimento Silencioso

Atualizado: 19 de ago. de 2021


Susan Sontag, ensaísta, filósofa e crítica de arte, em uma de suas obras [Contra a Interpretação] diz:


"O que importa agora é recuperarmos nossos sentidos. Devemos aprender a ver mais, ouvir mais, sentir mais."


O contexto para essa afirmação, escrita em 1966, é de reflexão sobre o modo de viver ocidental (Estadunidense, para ser mais específica) que está quase sempre atrelado ao consumo, a produtividade, ao excesso de informação, de estímulos [visuais, sonoros]. Susan faz um apelo para que, em meio ao cotidiano, de uma vida mecânica, possamos parar. Ficar no presente. E sentir.


Contra a Interpretação é um trabalho que reflete sobre a maneira de lidar com a arte e nosso instinto [ou aprendizado?] para tentar dar significado prático para o que vemos. Estamos sempre prontos a dar respostas, apontamentos e especular qual situação psicológica estava uma/um artista quando criou "tal" trabalho. No entanto, o que sentimos ao ver? ao ouvir?


Afinal, sentimos algo?


Contemporâneo a Sontag, o compositor John Cage, artista coinventor dos happenings [uma forma de expressão artística muito baseada no improviso e na experiência] acreditava que o silêncio é um elemento fundamental para nossa percepção sensorial:


"Os sons se organizam pelos silêncios. 'Nenhum som teme o silêncio que o extingue. E nem um silêncio existe que não esteja grávido de sons' *. A frase insinua a existência do temor do silêncio, dando um novo alcance ao tema, que não se restringe só ao problema da ausência física de sons. A sustentação dos silêncios é uma atitude a ser aprendida, que nos torna menos ansiosos e mais sensíveis." (Cassiano S. Quilici no livro O Ator-Performer e as Poéticas da Transformação de Si)


Para Cage, a sensibilidade só se faz presente e profunda, quando conseguimos aceitar que na vida há momentos de pausa, silêncio, de impotência, de impossibilidade de controlar tudo o que gostaríamos. Alguns experimentos propostos por ele, são feitos de maneira aleatória para "brincar" justamente com a falta de controle. Para tentar "dialogar" com o imprevisível e aleatório: "Aleatório significa aqui o aberto para outras lógicas que presidem os fenômenos. Significa também abster-se da imposição dos próprios desejos aos mundo, ouvindo o movimento inerente às coisas." (Cassiano S. Quilici no livro O Ator-Performer e as Poéticas da Transformação de Si)


Será possível mudar nosso olhar para a vida? Reaprender a ouvir? Aquietar?


Mover em direção as nossas profundezas, encarar o silêncio e a falta de respostas (ou a falta de controle) pode parecer um exercício quase impossível. Mas esse movimento é vital.


Movamos em silêncio. Para ver mais, ouvir mais, sentir mais, saborear mais.


*John Cage - Conferência na Juliard







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