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  • Foto do escritorRodrigo Falcão

Ícaros e Mirantes

Atualizado: 1 de abr. de 2021



1. Mirante do Vale


Na década de 60, os jovens Kogan e Zarzur, queriam marcar seus nomes na história de São Paulo, construindo o prédio mais alto da cidade, na região do Anhangabaú.

Muitos dos vizinhos eram contra a obra:

“Esse prédio vai desabar. É muito concreto!”

“Esse troço vai pegar fogo!”

“As fundações vão destruir o viaduto Santa Ifigênia, não precisamos desse monstro!”

Kogan, o engenheiro visionário rebatia todas as críticas e seguiu com o projeto. Um dia, enquanto tentava vender seu automóvel, foi visitado por duas pessoas, com as quais saiu para mostrar o veículo. Foi encontrado morto na Rua Pedroso, dentro do próprio carro.


O Mirante do Vale foi inaugurado em 1966, cinco anos depois da morte de seu idealizador, e tem 170m de altura. O prédio não caiu e nem prejudicou outras construções à volta, mas hoje é um triste bloco de cimento, cheio de galerias vazias, esquecido no centro. Lá do alto pode-se avistar a Serra da Cantareira, o Prédio do Banespa e o Edifício Itália.


Desde 1966, ninguém mais tentou fazer um prédio mais alto na cidade de São Paulo.



2. Torre da Universidade


Em 1966, no mesmo mês em que o Mirante foi inaugurado, um homem chamado Charles Whitman subiu até o último andar da torre da Universidade do Texas com várias espingardas e pistolas. Lá de cima do observatório, de uma altura de 70 metros, como fosse um deus, escolheu quem iria viver ou morrer: Em um período de 90 minutos matou 14 pessoas e feriu outras 32. Antes disso, matou a mãe e a irmã e ligou para as empresas onde elas trabalhavam para avisar que elas iriam faltar no serviço.


“Imagino que pareça que matei brutalmente aos dois amores da minha vida. Eu apenas estava a tentar fazer um trabalho rápido [...] Se o meu seguro de vida for válido, por favor paguem as minhas dívidas [...] doem o resto anonimamente a uma fundação de doentes mentais. Talvez a investigação previna outras tragédias deste tipo [...] Dêem o meu cão aos meus sogros.”


Depois da tragédia, a torre foi reformada e reaberta. No período de cinco anos, quatro pessoas se suicidaram no local.


Desde então, não é mais permitido visita ao observatório.



3. Lua e Vietnam


Três anos depois, em 1969, o homem pisava pela primeira vez na Lua. O sucesso da Missão Apolo, transmitido ao vivo para o mundo todo, foi comemorado como uma conquista por toda a humanidade. Para o feito, foram empregadas 400 mil pessoas e gastos 200 bilhões de dólares.

A vontade de ser a maior e mais imponente nação do planeta levou dezenas de astronautas à Lua, mas também levou 500 mil soldados à guerra.

Enquanto alguns americanos miravam a Terra a partir da Lua, outros assassinavam asiáticos.

Na guerra do Vietnam foram mortos 58.220 soldados americanos. Foram perdidas entre 1 e 6 milhões de vidas asiáticas.


Doze pessoas pisaram na lua entre 1969 e 1972: Todos homens e brancos.

Desde então, o ser humano não foi mais à Lua.



4. Santa Catarina: Arranha-Céus e Negacionismo



O Mirante do Vale foi considerado o prédio mais alto do Brasil por quase 50 anos. Porém, a partir de 2014 foram construídos vários prédios em Santa Catarina, em uma verdadeira competição para ver quem chegava mais alto. O maior até aqui é o YachtHouse Residence Club, com 281 metros de altura, e com duas torres gêmeas. No edifício, que também é o maior da America Latina, cada apartamento custa cerca de R$ 5 milhões. Dentre os donos desses apartamentos há famosos como Neymar e Luan Santana.


Neste mesmo estado onde há competição para ver quem chega mais alto, o governador ouviu a população e decidiu abrir o comércio mais cedo durante a querentena contra o Covid. Uma cena ficou famosa: a reabertura de um shopping todo envidraçado com uma multidão de pessoas se acotovelando, ávidas por compras, enquanto um músico tocava Kenny G. Depois de dez dias, os casos de contaminação explodiram em Santa Catarina.


Apesar de ter um dos PiBs per capta mais altos, Santa Catarina tem também os mais altos índices de contaminação por Covid do país. Além dos arranha-céus, lá também é possível apreciar estátuas-da-liberdade, símbolo máximo da cafonice da Havan.


5. Ícaro


Muito antes da corrida espacial e dos aranha-céus, o desejo do homem de se elevar além de suas limitações sempre esteve presente. Conhecido desde a antiguidade, o mito de Ícaro conta que Dédalo, um grande inventor, havia projetado asas, juntando penas de aves de vários tamanhos, amarrando-as com fios e fixando-as com cera, para que não se descolassem, moldando-as com as mãos, de forma que se tornassem perfeitas como as das aves. Ao finalizar o equipamento, Dédalo agitou suas asas e se viu suspenso no ar. Fez também um par de asas para seu filho Ícaro, e o ensinou a voar.


Antes do vôo que fariam juntos, Dédalo instruiu Ícaro a voar a uma altura média, nem tão próximo do sol, para que o calor não derretesse a cera que colava as penas, nem tão baixo, que o mar pudesse molhá-las.

Quando percebeu sua ascensão sobre os homens, Ícaro se sentiu como um deus e se deslumbrou com a bela imagem do sol. Sentindo-se atraído por ele, voou em sua direção, esquecendo-se das orientações de seu pai. A cera de suas asas começou a derreter, fazendo com que Ícaro caísse no mar, falecendo.


Desde então, o homem segue tentando chegar cada vez mais alto. E continua caindo.


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