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  • Foto do escritorMaiara Fidalgo

Vegetarianismo possível

Atualizado: 1 de abr. de 2021



Em tempos de tantas informações e reflexões sobre o que seria uma “alimentação saudável”, percebo na prática clínica um aumento de pessoas interessadas em se tornarem vegetarianas ou veganas. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, “é considerado vegetariano, todo aquele que exclui de sua alimentação todos os tipos de carnes, aves e peixes e seus derivados, podendo ou não utilizar laticínios e ovos. O vegetarianismo inclui o veganismo que é uma filosofia prática de não utilizar produtos oriundos do reino animal para nenhum fim e vai além da alimentação (alimentos, vestuário, cosméticos, etc.)”.


O vegetarianismo é uma conduta ética, política e social que se sustenta na inter-relação de motivações, atitudes e práticas nutricionais. A reflexão e oposição a cultura reflete na expressão dos hábitos alimentares. O vegetarianismo não é uma nova dieta da moda e caso a transição aconteça pelo modismo ou replicando a mentalidade de dieta, provavelmente a frustração irá surgir em conjunto com os pensamentos polarizados.

O ativismo alimentar é um dos movimentos contemporâneos mais dinâmicos e heterogêneos, que discute questões ambientais, sociais, econômicas e culturais.


Segundo Abozinio “os vegetarianos são questionados sobre como conseguem se privar do consumo da carne, ou seja, presume-se a existência do desejo e seu controle. A questão é que, para a maioria dos vegetarianos, a carne não é vista como comida, assim, não se trata de lutar contra o desejo de comer, pois isso inexiste; a opção pelo que se ingere e o que se abomina enquanto alimento não se baseia em nutrientes, mas em entrecruzamento de construções mentais, representações sociais e idiossincrasias pessoais.”

Azevedo coloca: “Sem ter a pretensão de dissolver as controvérsias nem de defender um ponto de vista específico, julga-se possível minimizar as divergências entre os anseios éticos e os desafios culturais e socioambientais implícitos na proposta do vegetarianismo”.



Na prática, a primeira orientação para quem busca fazer a transição para o vegetarianismo parece simples e até óbvia, mas faço questão de colocar, pois vai de encontro com a crença de escassez e com o padrão mental de insatisfação difundido na sociedade atual. Aqui vamos focalizar em incluir e na abundância e variedade que a alimentação pode ser e ter.


Sugiro o trabalho de observação da alimentação atual, tentando acolher tudo que for sendo percebido. Com essas observações refletimos juntos: Quais alimentos podemos incluir com mais frequência? Como ampliar o repertório de forma prazerosa? Como ter mais autonomia nas escolhas alimentares?


Entender que vegetarianismo não é sinônimo de alimentação saudável ou de consciência alimentar, no consultório há diversos exemplos de pessoas que aumentaram ou mantiveram o consumo de alimentos ultraprocessados após a transição. Atualmente, o mercado de produtos vegetarianos se expande associado a falta de tempo para pensar e planejar as refeições. As diversas razões para a adesão ao vegetarianismo e a variação do padrão alimentar entre os vegetarianos configuram-se como alguns dos aspectos importantes a serem considerados para orientação nutricional do indivíduo.


Por isso, minha sugestão é: experimentar novos sabores, aromas, texturas, ampliar o repertório. Diversificar e mudar as formas de preparo e entender que uma alimentação monótona irá interferir também na percepção de saciedade e satisfação.


É necessário falar mais sobre comida do que sobre nutrientes, assim fica acessível, fácil e prazeroso, os nutrientes são importantes, mas comemos comida! Oferecer sempre que possíveis exemplos práticos. Valorize a comida caseira!


Alimentação vegetariana bem conduzida pode suprir todas as necessidades nutricionais, a chave é a variedade e consciência das combinações entre os grupos alimentares, aumentar o consumo de leguminosas (feijão, grão de bico, lentilha, ervilha, soja), em conjunto, com os cereais (aveia, trigo, arroz, milho, quinoa). Uma alimentação normal e saudável é flexível, fluída e varia de acordo com o dia, contexto, ambiente, fome...


Comer é algo íntimo e pessoal e que por mais que busquemos entender as motivações que levam uma pessoa a deixar de comer determinado alimento, precisamos ir além dos questionamentos que colocam uma noção de norma e normalidade na relação com a comida.


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